quarta-feira, dezembro 03, 2003

Glória e Tragédia do «Hunley»

Em 1863, juntos na sua velha oficina de Nova Orleães (no Alabama), dois sócios habilidosos, James McClintock e Baxter Watson, financiados por um advogado do Louisana, Horace Lawson Hunley, finalizaram a terceira e última versão de um submarino de guerra encomendado pela Marinha da Confederação em plena Guerra Civil norte-americana.

Afundamento de um submarino de guerra pioneiro
Na noite de 17 de Fevereiro de 1864, o pequeno submarino Confederado «Hunley» , de 12 metros de comprimento e 7,5 toneladas, parte em missão furtiva destinada a romper o bloqueio naval da União ao porto de Charleston (Carolina do Sul). Num esporão à proa, transporta uma carga explosiva de 61 quilos de pólvora pronta a cravar no casco inimigo.
O ataque decorre como previsto. Esventrada pela explosão, a chalupa de guerra USS «Housatonic» afunda-se em apenas 5 minutos.
O «Hunley», embora tenha sido avistado pelas sentinelas no navio inimigo, pouco ou nada sofreu com os tiros de espingarda. No seu regresso, ainda teve tempo de fazer o sinal combinado para comunicar o sucesso e o retorno do submarino com uma lâmpada de magnésio numa das torretas, mas pouco depois mergulhou para não mais ser encontrado.
Com esta missão, o pequeno submarino entrou para a História.

O Submarino vindo das trevas
Passados 131 anos, em Maio de 1995, uma expedição financiada pelo famoso escritor norte-americano Clive Cussler através da sua Fundação NUMA (National Underwater and Marine Agency) encontrou a estrutura preservada no leito lodoso do porto de Charleston.

Cussler, autor de mais de 20 novelas marítimas baseadas em naufrágios, navegações e afundamentos, como "Deep Six" (1984), "Raise the Titanic!" (1976) e "The Sea Hunters" (1996 e 2002), entre outros, é igualmente conhecido pela sua actividade na descoberta de naufrágios célebres.
Um dos mais célebres navios malditos, o «Mary Celeste» foi encontrado à deriva ao largo dos Açores em 1872, sem vestígios da tripulação, tendo sido deixado no mar. Em Agosto de 2001, a equipa de Cussler anunciou a descoberta dos restos do «Mary Celeste» num recife próximo da ilha de Haiti, nas Caraíbas. O veleiro ainda navegou durante mais doze anos sob diferentes proprietários, até ser deliberadamente encalhada em 1885 por um capitão menos escrupuloso, decidido a ganhar fraudulentamente o dinheiro do seu seguro. No entanto, os restos do navio ficaram à vista e os peritos da companhia seguradora depressa descobriram. O capitão e o mestre foram devidamente condenados.
Curiosamente, a história misteriosa deste navio inspirou Sir Arthur Conan Doyle, o qual utilizou em "J. Habakuk Jephson's Statement" (1883) um veleiro imaginário com o nome afrancesado de «Marie Celeste»

8 esqueletos e 3000 artefactos...
...foi o resultado da investigação arqueológica no interior da estrutura ferrugenta do primeiro submarino de guerra da História.
Uma tripulação particularmente corajosa se tivermos em conta que o «Hunley» já se tinha afundado previamente, em Agosto de 1863, tendo perdido a vida 5 dos 8 tripulantes.

O Tenente George E. Dixon, comandante do «Hunley» na altura do desastre, foi identificado não só pela posição que ocupava no interior do submarino, como sobretudo por alguns objectos pessoais: um relógio de bolso em ouro e uma moeda de 20 dólares também em ouro, amolgada, relíquia que o salvou de um tiro de espingarda na batalha de Shiloh, na qual gravou a frase "My Life Preserver"

Mas a verdadeira causa do afundamento do «Hunley» permanece ainda hoje desconhecida.

A sua redescoberta em 1995 deu início a um moroso processo de 5 anos para estudo científico por parte do Instituto Smithsonian e da Universidade do Tennessee e também a sua recuperação, realizada em 2000, tendo em vista a sua exposição ao público. No entanto, a simples previsão orçamental para o futuro Museu Marítimo da Guerra Civil, avaliada em 40 milhões de dólares tem sido o principal obstáculo à conclusão do projecto.
Cuidadosamente trazido à superfície e transferido com sucesso para a unidade improvisada de conservação na Base Naval de Charleston, aguarda agora mecenas e contribuintes interessados na recuperação da relíquia naval.

Descanso Eterno
Finalmente, quase 140 anos após a conclusão da Guerra Civil, a tripulação do pequeno submersível encontrará o seu repouso final em terra numa cerimónia prevista para o mês de Abril de 2004, naquele que será o último enterramento Confederado na História dos Estados Unidos.

P.S.
Por indicação do Luís Falcão, tenho a acrescentar que existe um filme sobre este episódio marítimo, intitulado simplesmente "The Hunley". As críticas não são muito más e ao que parece a reconstituição histórica foi muito bem conseguida. Aqui fica a sugestão para as tardes de Inverno que se aproximam.

Sem comentários: