sexta-feira, dezembro 05, 2003

Possível navio de Colombo descoberto no Panamá

No passado mês de Novembro, surgiram notícias sobre um naufrágio no Panamá que alguns investigadores identificam como sendo «La Vizcaina», um dos navios abandonados por Cristóvão Colombo na sua quarta e derradeira viagem ao Novo Mundo, em 1503-1504.

Segundo Carlos Fitzgerald, Director Nacional do Património Cultural do Instituto Nacional de Cultura do Panamá (INAC), aguarda-se em breve um acordo de cooperação para investigação futura, celebrado entre o Instituto de Arqueologia Náutica (INA) da Universidade do Texas A&M e o Marine Investigations of the Isthmus (IMDI), grupo privado que recolheu os primeiros artefactos do naufrágio em 2001. Este acordo possibilitará o início de investigação arqueológica para analisar aquele que é um dos mais antigos naufrágios descobertos no Novo mundo.

História rocambolesca
O naufrágio, descoberto em 1998 em Playa Damas, próximo de Nombre de Dios, ao largo da costa caribenha do Panamá em apenas 6 metros de profundidade pelo mergulhador e historiador amador norte-americano Warren White, tem suscitado o interesse de vários grupos. Um dos primeiros foi o IMDI, uma companhia de caça ao tesouro dirigida pelo próprio Warren White, Nilda Vázquez e um grupo de investidores e técnicos.

Desde então, White afastou-se do IMDI e tem denunciado a ameaça que pende sobre o naufrágio devido à intenção do grupo para retirar mais artefactos deste navio. Sabendo que a própria Nilda Vázquez admite a falta de conhecimento e metedologia arqueólogica do IMDI, de maneira a proceder a uma escavação em regra, foi chamado a intervir o INA, instituto reputado mundialmente possuidor das credenciais arqueológicas necessárias e negociou-se apoio financeiro para as campanhas científicas, prestado pela grupo de "media" alemão Der Spiegel.

Um Português no Panamá
As negociações com o INAC sobre a escavação integral do sítio de naufrágio estão agora na sua fase final. Embora o director Nacional do Património tenha informado que o IMDI não possui direitos legais para exploração do naufrágio ou remoção de mais arfactos, o português Filipe Castro (dirigiu as escavações da nau da Índia «Nossa Senhora dos Mártires» na barra do Tejo entre 1996 e 2000), professor assistente no INA e director de projecto do naufrágio de Playa Damas apresentou recentemente uma proposta formal para colaboração com o director do IMDI Ernesto Cordovez (filho de Nilda Vázquez), para rápida resolução da questão. O acordo final evitará o confronto legal entre a Direcção do Centro Nacional de Cultura e o grupo IMDI, que ameaçou levar o caso a tribunal, caso não lhe seja permitido prosseguir a sua actividade no naufrágio.

Um naufrágio importante a estudar
Provas factuais, incluindo datações por Carbono 14 e dendrocronologia (análise dos aneis de crescimento nas peças de madeira) realizadas pela Academia das Ciências de Heidelberg sugerem uma concordância cronológica entre a época em que o navio foi construído e a sua possível utilização na quarta armada de Colombo. De qualquer modo, sendo comprovadamente contemporâneo da «Vizcaina» de Colombo, trata-se sem dúvida de um navio de finais do séc. XV a inícios do séc. XVI, tornando-se por isso um raro exemplar para o estudo directo dos navios da Expansão e Descobrimentos ibéricos. O Dr. Donald Keith, director do grupo de arqueologia náutica "Ships of Discovery", após uma inspecção preliminar da artilharia, cerâmica e madeiras recuperadas do naufrágio, pensa não se tratar do próprio Vizcaína, mas concorda com a importância da pesquisa a efectuar.

O naufrágio de Playa Damas foi já declarado Património Nacional pelo Governo do Panamá, de acordo, com a legislação aprovada em Agosto deste ano, baseada na Convenção da UNESCO para o Património Submerso, em que se declaram todos os sítios de naufrágios históricos como Património Nacional.

A recuperação de artefactos pelo grupo privado IMDI iniciou-se em 2001e e foi documentada em video (disponível no "site" do "Archaeology Channel"). No entanto, Fitzgerald declarou que o Governo do Panamá nunca concedeu permissão escrita ao grupo IMDI para proceder a escavações ou recuperações no sítio do naufrágio, tendo apenas acordado a remoção de uma série específica de objectos mais valiosos que poderiam vir a ser alvo de roubo. Este alegado mal-entendido relativamente ao acordo entre as duas partes chegou a estar na origem de um diferendo entre o grupo IMDI e o Instituto Nacional de Cultura do Panamá, instituição governamental responsável pelo património histórico e arqueológico.

Espera-se que o acordo para o estudo científico do naufrágio de Playa Damas estabeleça um precedente na gestão do património cultural do Panamá, de modo a beneficiar a história local e enriquecer o nosso conhecimento sobre uma das fases pioneiras da colonização do Novo Mundo, evitando a sua destruição às mãos de empresas de caça ao tesouro cuja única finalidade se reduz a produzir lucro para um punhado de investidores.

As Naus voltam a Portugal
Aproveitamos esta ocasião para informar que o Dr. Filipe Vieira de Castro estará este mês em Lisboa para o lançamento do seu livro A Nau de Portugal: Os Navios da Conquista do Império do Oriente, 1489-1650 , publicado pela Editora Prefácio no próximo dia 18 de Dezembro, às 18:00 horas, no Clube Militar Naval, em Lisboa (Av. Defensores de Chaves, n.º 44).
Estão convidados todos os marítimos com gosto pela história e pelos mares de outrora.

Sem comentários: