quarta-feira, dezembro 17, 2003

Tragédia e Negócio: o Ouro do HMS «Sussex»

O HMS «Sussex», navio de linha de 80 canhões com 47 metros de comprimento comandado pelo Almirante Sir Francis Wheeler, liderava uma enorme esquadra inglesa composta por mais de 100 navios dirigida ao Mediterrâneo para uma ofensiva contra França quando se afundou no meio de uma violenta tempestade transportando 500 homens a bordo.
Segundo certas investigações, o navio de guerra transportaria nos seus porões cerca de 9 toneladas de moedas de ouro destinadas a comprar a lealdade de um potencial aliado no Sudeste de França, o Duque de Sabóia.

Recentemente, depois de aturadas investigações no mar e avultadas negociações em terra, a companhia norte-americana Odyssey Marine Exploration Inc. irá recuperar a carga de um navio de guerra inglês naufragado em 1694. Está aberto o mais recente capítulo da caça aos tesouros afundados.
A companhia irá utilizar um ROV ("Remotely Operated Vehicle", veículo robotizado telecomandado) de 7 toneladas denominado «Zeus», para explorar destroços encontrados ao largo de Espanha, em busca do alegado tesouro. O «Zeus» é dotado da última tecnologia, sendo capaz de mergulhar a 2.500 metros e possui braços manipuláveis extremamente precisos capazes de efectuar recuperações de pequenos objectos.

O Tesouro e a Caça
Em caso de confirmação positiva dos destroços descobertos no fundo do mar ao largo de Gibraltar com o «Sussex», estima-se que o pequeno robot possa recuperar uma quantia avaliada entre os 500 milhões a 4 bilhões de dólares.
De acordo com a legislação internacional, naufrágios deste tipo mantêm-se propriedade do governo sob os quais operavam durante a sua vida activa, neste caso pertencendo ainda ao governo britânico.

No entanto, foi alcançado um acordo exclusivo para uma intervenção de estudo e recuperação no início deste ano entre o governo de Sua Magestade com a companhia privada norte-americana (consulte-se o relatório do Ministério da Defesa, a página 7).

A Odyssey Marine Exploration assume a despesa inicial da campanha, o que poderá ascender a perto de 5 milhões de dólares, mas o contrato concede à companhia uns generosos 80 por cento dos primeiros 45 milhões de dólares obtidos pela venda das moedas recolhidas. Quaisquer receitas até 500 milhões de dólares serão divididas em partes iguais entre a companhia e o Governo britânico, o qual receberá 60 por cento de qualquer receita adicional.
Um acordo que, diga-se, suscitou polémica no meio da Arqueologia inglesa, prendendo-se com o tipo de trabalho pretendido, que na verdade envolve extracção de peças de interesse arqueológico e a consequente venda de parte desse património, contrários aos princípois básicos da política patrimonial britânica e mesmo de convenções internacionais a que o Reino Unido aderiu. Um acto previsivelmente condenável, pois não estão assegurados o devido acompanhamento e metodologia científica da Arqueologia Subaquática indispensáveis para assegurar a integridade do conhecimento a obter a partir do naufrágio.

Os Caçadores Subaquáticos do Séc. XXI
Trata-se da mesma companhia que descobriu e explora o rico naufrágio do SS «Republic», um navio a vapor movido a rodas de pás afundado em 1865 na costa Leste dos Estados Unidos, ao largo do Estado da Georgia, arrastando para o fundo cerca de 400.000 dólares em moedas de ouro de 20 dólares, carga que transportava entre Nova Iorque e Nova Orleães para financiar a reconstrução do Sul dos Estados Unidos após o fim da Guerra Civil.
Em resultado da primeira exploração, foi recuperado o sino de bordo, cujas inscrições permitiram a identificação do navio.
A descoberta desta carga está avaliada em cerca de 120 milhões de dólares actuais. Boas notícias para os accionistas da Odyssey Marine Exploration, líder no campo de recuperação de naufrágios em águas profundas, pois está cotada na Bolsa norte-americana.

À Conquista das Fortunas Afundadas
A Odyssey Marine Exploration possui actualmente vários projectos de exploração de naufrágios em várias fases de desenvolvimento nos mares do mundo inteiro, incluindo agora o «Sussex». O navio-base da companhia, «Odyssey Explorer», encontra-se estacionado sobre o sítio de naufrágio do SS «Republic» desde início do Outubro. As operações no «Sussex» terão início logo após a campanha de exploração do SS «Republic».

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