domingo, julho 05, 2009

Mar, Mitos e Máquinas I

A Arca de Noé

Gravura da Bíblia de Nuremberga (edição de 1570)

Arca de Noé nos vitrais da igreja de Saint Étienne du Mont, c.1600

O episódio bíblico narrado no Génesis descreve como Deus castigou a maldade do Homem destruindo toda a sua criação. Ou melhor, quase toda. Apenas Noé e a sua família, graciosamente poupados à ira divina, obtiveram o tempo necessário à recolha de um casal de espécimens de cada animal da Terra a bordo da fabulosa Arca flutuante construída entretanto pelo humilde artesão. Assim teriam sobrevivido ao Grande Dilúvio para repovoarem o planeta.


“Forma exterior arcae Noë ex descriptione Mosis”, s.d. (1590-1650?)
Biblioteca Nacional de Portugal

O mito fundador do Dilúvio comum às principais religiões suscitou no mundo ocidental uma singular busca de interpretações, de modelos construtivos e da própria localização da mítica nave.

Gravura cosmográfica de nova casa do Zodíaco (Arca de Noé), inserta na obra de Julius Schiller, Coelum Stellatum Christianum (Augsburg, 1627).

Fonte inesgotável de inspiração artística, a Arca construída por Noé deu lugar inclusivamente uma tentativa de renomeação de uma constelação do zodíaco num atlas seiscentista dedicado ao Céu Estrelado Cristão.


Provavelmente a mais famosa representação do episódio encontra-se retratada na Capela Sistina, no fresco monumental de Michel’Angelo Buonarroti datado de 1509.

Também motivou diversas composições artísticas, como estas duas colecções de gravuras quinhentistas holandesas

Em 1609, Peter Jansen, um obscuro carpinteiro naval holandês, construiu aquilo que acreditava ser uma autêntica réplica da Arca através das indicações contidas na Bíblia.



A reconstrução da arca bíblica ocupou mentes ociosas, tais como a de John Wilkins, Bispo de Chester. Recorrendo a cálculos improváveis, este erudito religioso asseverou a capacidade da Arca em transportar a quantidade desmedida de animais encomendada a Noé. Fez até prova disso no seu livro Essay Towards a Real Character, and a Philosophical Language (London, 1668) , onde se inclui mais uma representação da mítica embarcação, embora mais à maneira de estábulo flutuante.



Porém, em questão de escala, ninguém superou os incansáveis chineses, que terminaram muito recentemente uma réplica megalómana (e comercial, pois alberga um hotel de luxo) nos arredores de Hong Kong.

Para saber mais acerca das interpretações da arca de Noé ao longo da História, consultem-se uma e outra cronologia concisas e bem ilustradas.

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